sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

2011 23 vezes melhor


Não sou do tipo que preza por quantidade. Não foi pra garantir sorte que pulei mais que 7 ondas nessa virada. Prefiro qualidade. E sendo 23 o meu número da sorte, resolvi saltar 23 ondas na beira do mar. Não por superstição, mas porque é único. É meu reveillon, minhas pernocas, meu número, e vai ser meu ano. Ninguém vai tirar isso de mim exatamente porque depois da meia noite eu bati meus pés sobre a areia e o mar 23 vezes. Simples assim.
De quebra ainda fiz São Longuinho virá os zóinho lá no céu.

ps.: Um 2011 único e celestial, para cada um de vcs !!

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A tua piscina tá cheia de ratos



É impossível, para alguém como eu, ficar à margem de um debate tão polemico e inflamado como o aberto pelos comentários de Mayara Petruso na internet (não sabe? Google it.). Impossível porque a discussão se tornou tão profunda e ampla que tange pontos sensíveis de minha humilde e particular opinião.

O julgamento divulgado por Mayara a respeito dos nordestinos é dividido com muitos brasileiros, diga-se de passagem, não apenas paulistas. Muitos endossaram seus insultos. Outros a insultaram. E assim o debate gerou uma comoção nacional, tomando proporções internacionais. A discussão é extremamente válida e necessária. É preciso enxergar o preconceito para aniquilá-lo.

Com o recente destaque alcançado pelo Nordeste como região que mais cresce no país e a considerável melhoria de vida dos nordestinos, o sentimento xenófobo acentuou-se. Pessoas como a jovem estudante de direito acreditam que o Nordeste ou os nordestinos não merecem o lugar que conquistaram. Nas palavras da Doutora em Sociologia e Psicóloga Marinina Gruska Benevides “A visibilidade do outro incomoda aqueles que se julgam herdeiros de um estatuto de humanidade sublime, embora esta se assente em fundamentos toscos.”. Sentimento condenável, porém corriqueiro nos homens em reação a mudança.

A grande infelicidade de Mayara foi o nível das ofensas proferidas. Ela pede a morte dos nordestinos por uma vitória eleitoral de uma candidata de sua oposição. Vitória esta que seria conquistada sem os votos do Nordeste. Uma prova da falta de informação da jovem.

Obviamente Mayara não tinha a mínima consciência do que fazia. O que não a isenta do crime. Numa democracia a liberdade não é plena. A liberdade individual se limita nas leis e na liberdade do outro. O preconceito e incitação ao homicídio a que a garota deu voz são crimes. Mayara servirá de bode expiatório da Justiça para que seja mostrado que o terreno virtual não é impune e preconceitos, sejam eles passionais ou seguidos de arrependimento, não serão tolerados.

A reação dos brasileiros é condenada por muitos. Mayara é alvo constante de insultos dos mais variados. Pode parecer mera hipocrisia. Para mim é a prova de que o Brasil tem esperança. Não concordo com o baixo calão das ofensas, mas acho compreensiva a indignação. A partir do momento que ela declara uma opinião deve lidar com as conseqüências. Vejo não um preconceito, mas um conceito (mesmo que agressivo) formado sobre ela. Conceito que só foi construído com base em palavras da própria Mayara.

E reparem: eu disse que os brasileiros tiveram essa reação. Não nordestinos apenas, brasileiros. Não penso como uma reação contra Mayara, mas com o tamanho preconceito a que ela deu voz. É uma resposta de que não toleramos intolerância. É uma forma de lutar por um reconhecimento de união e igualdade. Gritar para que alguém escute. Pobre garota, porque o Brasil encontrou o ouvido de que precisava.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Inquebráveis Sonhos de Plumas


Descia de um balão floreado todo estranho. Tinha estrelas, cometas, ideais, chocolate e o mar. Pisou no chão tomando cuidado para não desequilibrar. Olhou em seus olhos. Ah, era por isso. A dona do balão sorriu meio boba, meio sem ainda acreditar. Ele levantou seu queixo, balançou a cabeça como se dissesse: “Nope, no second best” e soubesse sua resposta: “Yep, it doesn’t get any better”. Ela, como sempre, desconfiava de alguma máscara, peruca, maquiagem, mentira. Ele, de alguma parte de vidro que pudessem quebrar.
A louca mulher então decidiu reinventar-se. Se no seu mundo algo daria errado, inverteu o sentido. Pegou impulso e se jogou no balão de volta com ele. Flutuando sem culpa se encaixavam encantados em finalmente por um rosto um no outro.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Citocinese do Coração Partido





Passou a maior parte da vida esperando. Sua atividade era intensa e divertida. Metabolismo sempre nas alturas. Ao longo do tempo, porém, via todos à sua volta se transformando. Parecia algo bonito, incrível. Até que um dia se decidiu pela tentativa.
Passou por uma fase de preparação. Duplicou seus esforços, suas metas, seus desejos, seus sonhos. Tudo para ser dividido.
Até que começou o processo. Era muito profundo e diferente de tudo que havia sentido ou vivido. Coisas novas surgiam dentro dela, se movimentavam de maneira inesperada e inédita. Nunca se sentira tão completa e imortal. O sentimento de invencibilidade inerente aos eternos apaixonados tomou conta de todo seu ser.
Após o que poderiam ser minutos, anos ou alguns verões ensolarados, ela se deparou com uma sensação intrigante. Era como se alguma força centrípeta muito forte estivesse tentando partí-la. Tentou lutar contra, mas não queria. Não sabia o que era aquilo e deixou acontecer. Aos poucos foi perdendo pequenos pedaços. Acreditava que estava buscando a felicidade suprema, tudo aquilo valeria a pena. Inclusive e principalmente as perdas.
A força continuou agindo e se apoderou dela. Ela assistiu todo seu empenho, sua esperança e seu amor ir embora. Levando consigo um pedaço gigante dela mesma. Queria voltar no tempo, ou pará-lo. Só conseguia olhar.
Voltou para o começo. Agora esperava de novo. Seu metabolismo voltou a crescer e todas as suas atenções, antes tão ocupadas, se dispersaram novamente. Desta vez para recompor a curiosa criatura aventureira.
Sentia-se irreparável. Jurou que não faria aquela loucura de novo. Da próxima vez não se entregaria tanto. Se decidisse tentar, não seria tanta paixão, aplicação. Seria cautela, cuidado, precaução.
Cedo ou tarde descobriria que aquilo era impossível. Era uma questão regida por leis fisiológicas fora de seu alcance. Toda vez seria aterrorizante e extraordinário ou se não, mentira. Descobriria que 90% de sua vida seria recuperação. E no final, que aqueles míseros e miseráveis 10% realmente valeriam a pena. Se depois de tanto tempo é assim, certamente foi a melhor adaptação. Ou por que outro motivo ainda estaríamos aqui?

domingo, 10 de outubro de 2010

Seguindo o Sol


Queria os olhos da minha mãe. Quando eu era pequena, costumava dizer que pareciam girassóis em campos verdes de grama começando a secar. Os meus preferidos. Herdei os olhos do meu pai, puxadinhos, pequenos e castanhos. Da minha mãe herdei outras coisas.
Minha mãe é muito paciente. Paciente e calma com as coisas e com as pessoas, principalmente. O que é raro. Herdei isso dela.
Herdei também o gosto pela arte. Ela desenha, pinta, cria e escreve muito bem. E nossas habilidades maiores são complementares. O que ela consegue criar numa cabaça talvez só eu consiga pôr em palavras.
Poderia escrever um livro sobre essas coisinhas que temos em comum. Porém existe algo que aprendi com ela que acho que é maior do que todo o resto junto. Algo que foi inconsciente, tanto da parte dela ( o que não tira seu mérito, já que ratificou com exemplo), tanto por minha parte, que acabo de perceber.
Minha mãe é de Belo Horizonte e veio para Goiânia quando se casou com meu pai, com 19 anos. Transferiu sua faculdade de Odontologia de Diamantina para Anápolis e estudava durante os meus 3, 4 anos. Crianças são muito sinceras e eu, sendo cuidada por meu pai enquanto minha mãe estudava, passei a chorar por ele à noite. Vi Tigres com filhotes e disse que era o pai, porque a mãe estava trabalhando; por isso também a menininha de Chiquititas chorava. Disse isso para minha mãe, e cheguei até a perguntar onde ela morava.
A lição é que muitas vezes na vida eu terei o poder de machucar as pessoas com a verdade, mas isso não me dá o direito de fazê-lo. Claro que com 4 anos eu não tinha noção que minha mãe fazia tudo por mim e eu a fazia chorar a noite toda. A questão é que isso ficou guardado em algum cantinho dentro de mim. Isso se tornou a minha essência em mais do que a conclusão óbvia. A lição me ensinou gentileza, humildade, boas maneiras, respeito e perdão; a admirar sinceridade e saber usá-la assim como as palavras.
Se sou quem sou hoje, essa alma colorida e humanista até as entranhas, eu devo a ela. Por ter sido essa mãe maravilhosa que um dia quero ser pros meus filhos. Por ter me deixado fora das rodinhas adolescentes que reclamavam das mães. Eles não vêem que as mães só querem seu bem, mas o olhar da minha nunca me permitiu achar o contrário. E posso jurar que quando olho no espelho, bem de perto, meus olhos são campos de girassóis só um pouquinho mais secos que os dela.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Mini - devaneio


Abro o flip do celular e vejo na tela: 1 chamada perdida. Hoje em dia espero me ligarem de volta. Quem quiser que ligue de novo, me encontre se quiser se arriscar. Há muito cansei de ligar de volta e ser engano. Só faço depósitos em cofre seguro.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Ps.: Cometa

Puta que pariu !!!!!!!!!

Escrevam textos mais curtos por favor! Até agora não conseguir descobrir que história é essa de todo mundo falando de Cometa porque não consegui entender os textos até o final!
Isso é um pedido desesperado, atendam-no!

PS.: Essa mensagem foi especialmente pra duas pessoas à toa que sabem quem são.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Sobre suicídios e amores ecológicos sem lógica

Olhava para os lados. Só conseguia ver a terra vermelha. E mais nada. Sempre fora um lugar inóspito. Não era grande novidade. Mas sempre achara algo a que se interessar. Pessoas perdidas, como eram curiosas aquelas criaturas. Achavam que estavam no lugar errado. Só que nunca diziam onde pretendiam chegar. Concluiu então que não deveria ter um lugar certo. Se houvesse, ele teria que concordar, certamente não era aquele.
Infelizmente não era uma escolha. Não tinha como se locomover. Restava-lhe apenas esperar. Esperar algo acontecer.
O dia estava muito seco e ensolarado como sempre. Podia sentir a terra tremer, porém. Um carro quem sabe. Mas não ficariam por muito tempo. Não era um carro, afinal. Era uma moto. A moto parou a pouca distância dele. O motorista desceu. Tirou o capacete.
Era uma mulher. Seus longos cabelos ondulados eram da cor da terra. Usava uns óculos escuros pretos, calça jeans e regata branca. Chegou mais perto dele. Pegou na mochila uma máquina fotográfica e tirou várias fotos. De longe. De perto. Em pé. Deitada. Com as montanhas. Focando só nele.
Ele não havia experimentado essa sensação antes. De se sentir importante. A mulher colocou a máquina de volta na mochila. E começou a andar em sua direção. Ela tocou seus espinhos. Ele sentiu que estava no lugar certo. Ela também. Ela sorriu. Virou as costas. Colocou o capacete. Foi embora.
Ele, extasiado, olhou a placa da moto. Tinha as letras L-A-S-V-E-G-A-S. Mas ele, claro não sabia ler. Agora, só podia ficar parado, mas não podia ficar parado. Estava feliz. Pela primeira vez. Queria continuar feliz, importante, naquela terra de ninguém. Abriu seu estômato. Perdeu água e mais água sem se importar.
Dias depois a mulher voltou com um grupo de pessoas. Queria mostrar-lhes o cacto mais lindo, alto e impressionante que já vira. Quando lá chegou só restavam os restos. Ele estava seco e morto. Ela ficou triste. Tirou mais algumas fotos. Ganhou alguns prêmios pelas fotos do cacto.
Até hoje, se lhe perguntam sobre o cacto, conta essa linda história que tinha na cabeça:
“Ele amava muito a lua sabe, mas o sol tinha inveja e não os deixavam se ver por muito tempo. Ele cansou de esperar um dia e se vingou do sol, fazendo com que ele próprio o matasse. E foi, enfim encontrar a lua. Dá pra ver à noite se você apertar bem os olhos.”

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Combustão




-Porra! - grita e uma taça cai espalhando vinho pelo chão de madeira da sala. O outro levanta assustado.
...
Duas taças vermelhas se erguem em um brinde “Nunca mais alegria sem dor”. Quando se encontram, encontram-se também os olhares. Paixão indiscutível e arrebatadora.
...
-O que aconteceu?- pergunta
-A rotina aconteceu, o tempo passou, o vinho esta sem efeito.
- Você me ama e é infeliz?
- Pior. Meu amor é correspondido e nós dois somos infelizes.
...
Andavam pelas ruas como heróis secretos. Sabiam que a chama não era eterna. Pretendiam torná-la, porém, imortal. As mãos se entrelaçavam numa luta contra o resto do mundo. Não eram apenas pelo amor ou pelo sexo. Eram pela vida. O último e o primeiro.
...
-Eu te amo muito.
-Eu sei, e daí?
-Você me ama muito.
-Eu também sei disso. E você esta me entendendo.
-Amor recíproco infeliz?
-O final não é tão divertido quanto o começo.
...
Compartilhavam teorias sobre o amor, o sexo e a vida. Mudavam sempre de idéia. Não conversavam sobre o futuro, viviam o presente. Aproveitavam seu curto prazo de duração.
...
-Podemos fazer outro final.
-Claro. Um em que nós dois sejamos felizes.
-Separados? Você sabe que é impossível.
-Não sei não. Nem você.
-Eu sei. Vamos nos casar!
-Não! As pessoas se casam por amor e se separam por uma assinatura de TV à cabo.
- Então você está terminando comigo por causa de um vinho velho, meia dúzia de teorias furadas e uma assinatura de TV à cabo?
-Não. Nós vamos nos separar porque o amor não é o suficiente.
-Por que tem que ser assim? Por que a necessidade de obstáculos?- disse para si, já não mais discordando.
-Não sei. Talvez porque se o universo conspira a nosso favor a tendência natural é começarmos a conspirar contra o universo.
 ...
Promessas nunca eram feitas já que promessas de amor nunca são cumpridas. Sua paixão pela vida e um pelo outro os impeliram a fazer uma única: só dure o tempo que mereça.
...
-Estaríamos só cumprindo uma promessa.
-Não merecemos ser infelizes.
-Eu te amo demais para isso.
-Eu te amo demais para isso.
Um beijo ardente queimava seus corações enquanto o universo, furioso, derrubava a vela no chão, renovando o vinho, já velho e melhor do que era há três anos. O último e o primeiro.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

eu te amo tanto, tanto.




Estou de novo viajando pra ver alguém que amo deitado, gelado, coberto de flores mortas. Eu não sei explicar a dor ou quaisquer sentimentos que a acompanhem. É estranho ainda quando penso que chegarei a BH e não vou vê-lo no portão de embarque esperando para nos abraçar, pegar as malas e ir mancando até o carro.
O avião agora balança com os soluços da minha mãe, que perdeu o pai. E com os abraços de consolo do meu pai que acaba de perder seu outro pai e melhor amigo, apenas 8 meses depois de perder o primeiro.
Nunca torci tanto para o avião não pousar. O meu lugar preferido em todo mundo exibe suas luzes pela janela e eu quero que o avião permaneça no ar até que o nosso chão volte. Isso não pode estar acontecendo.
68 anos. Uma mãe, uma esposa, quatro filhas, um filho, cinco irmãs, cinco irmãos, dois netos, quatro netas, três genros, uma nora, tantos tios, compadre, comadres e sobrinhos, incontáveis amigos e amigas. Uma vida inteira pela frente. Caixa fechada de sapato, meias novas, um lago mal acabado, e inúmeros planos não iniciados. Uma vida inteira para trás. Orgulhos de seus filhos, netos e genros (que eram também filhos), de sua esposa. Pescarias, viagens, cavalgadas, cachaças e filmes. No fim, o encontro de tudo numa sala grande, pequena demais para a família e os gritos desesperados. Era apertado e não coube todo mundo. Assim como não coube tanto amor. John Lennon disse que no final o amor que você dá é igual ao amor que você recebe. Acho que foi por isso que ele se foi. Mesmo amando tanto, tanto quanto ele amou, se ficasse mais um pouquinho só, ele não conseguiria corresponder o amor que causava nas pessoas.
As saudades doem demais em mim. É como um buraco imenso no peito que parece que nada vai preencher. Mas eu vou tentar encher de lembranças e histórias. Vou colocar a imagem dele acordando os netos com uma bacia de batata ruffles do vovô Jordano na sala e quatro copos de coca. Vou guardar minha herança, um caderno com os 572 filmes que ele assistiu em três anos de juventude e a carteirinha de torcedor inabalável do Galo com a camisa do time. Vou lembrar da imagem dele sentado no sofá do Canta Galo, cortando uma laranja e rindo da Espanha ser campeã do mundo. Vou gravar a sua voz me contando repetidas histórias de como machucou a perna no arame farpado, e o que aconteceu que deu bicho no gesso quando quebrou a mesma perna, e você, vô, cantando Menino da Porteira pra mim. Não sei se você não sabia a música inteira ou se eu nunca ficava acordada até o fim, mas por algum motivo eu demorei a descobrir que o menino morria no final. Mas ele morre. E você morreu.
Agora eu não sei como a gente vai conseguir viver sem você. Desconfio que aquele coração gigante seu não parou de bater simplesmente. Tenho certeza que todo amor lá de dentro vai se espalhar por todos que sentem a sua falta e isso vai nos dar força pra não deixar seu coração parar de bater. Nunca.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

911




Sentia ondas vermelhas atingirem suas costas em intervalos cada vez mais curtos. Olhou para trás e viu as saídas completamente obstruídas. Abaixou a cabeça e viu o chão. Não o que ainda restava sob seus pés, mas o que estaria lá embaixo apos os noventa e quatro imediatamente após ele. Voltou a contemplar a janela. O céu estava claro, o tempo bom, entre verão e outono. Ele adorava terças-feiras. Imaginou a neve, que não existia, na rua e um anjo sendo formado ao se deitar de braços esticados. Pensou em sua mulher no dia do casamento, tão linda. Sentiu-se um homem de sorte por tê-la. Também por ter tido tempo de ligar 55 segundos antes e ouvir sua voz na secretária eletrônica: “Oi, você ligou para Clare. Agora não posso atender, mas espere o beep e já sabe o que fazer.”. Sentiu-se sortudo, de novo, por poder ter dito: “Te amo muito” antes do celular ir para as chamas. Não consegui pensar na vida que ainda teria para viver. Não conseguia pensar na vida que poderia ter vivido antes. Não agora. Não mais. Nunca mais. Olhou novamente sobre o ombro e a fumaça o alcançava. Não queria terminar desmaiado no 95o andar consumido pelo calor. E só conseguia pensar no chão. Agora que seu tempo se esgotava e ele já tinha pensado em tudo que queria pensar por último, ele sabia o que fazer. Havia se decidido pelo método Peter Pan. Concentrou-se num pensamento muito, muito feliz e pulou. Jogou-se de olhos fechados sentindo o corpo de Clare junto ao seu. O vento batia muito forte em seu rosto. Se abrisse os olhos iria ver outro aventureiros, pedaços de concreto, fumaça e mais fogo. Mas o vento parecia uma brisa leve, e ele, na verdade, estava em Santorini bebendo um bom vinho, olhando o mar. Além disso, porque deveria se importar? Ele voava. Voava muito e voava longe. Voaria para sempre. A bomba de 144 segundos atrás, que destruiu tudo e tanto, o deu asas. E ele morreu no meio do caminho entre seu chão e o chão, do jeito que escolheu.
De braços abertos no asfalto, uma nuvem de poeira sobe formando um anjo já sem asas, entoado pelo grito desesperado de uma mulher ao telefone do outro lado da cidade.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

deixe o Sistema nervoso



http://multishow.globo.com/Geleia-do-Rock/Videos/_1316209.shtml
Sistema Nervoso (Matheus Torreão) - Geleia do Rock

Dorme pequenino e eu te conto um segredo
Quando gente grande quer lutar por seus direitos
Acaba numa cruz ou cozinhando num espeto

As coisas são assim porque nasceram assim mesmo
Pelo amor de Deus menino tenha algum respeito
O povo unido sempre sai ferido de algum jeito

E você insiste que o sistema é cruel e escraviza o
nosso povo
Te cuida meu filho, não deixa o sistema nervoso

Depois nós que somos tolos
Assistindo vocês todos brincarem com fogo e ter que
repetir tudo de novo...
Não deixa o sistema nervoso 

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Rendição



A urgência era tamanha que não cabiam em si. Pessoas com brilhos nas almas, uma ao lado da outra, mas que sozinhas seriam ofuscadas. O combustível daquela paixão era perceptível e apreciável a todos.
Sentados à mesa, se atraiam, falavam coordenados e evitavam se olhar. Esse desastre, que ocorreria algumas vezes ao longo do dia, era inevitável e arrebatador. Quando o olhar de um encontrava pelo caminho uma parte do outro, o sorriso se abria. Não qualquer sorriso. Aquele sorriso bobo, perdido, de quem acredita em fadas e papai Noel. Os segundos eram tão intensamente compartilhados e tão íntimos que constrangiam todos em volta.
Foi uma tarde de invejar os mais esforçados românticos e frustrar os mais convictos incrédulos. Talvez não sejam feitos um para o outro e provavelmente não vão durar para sempre. Mas por aquele átimo de sentimento, frasco de intensidade, que desviava olhares de objetos inanimados, vale a pena esquecer convenções sociais, orgulho, certo, errado e até caras metades.

terça-feira, 17 de agosto de 2010


Os poemas que não escrevi
Os textos que perdi
Morando em minha cabeça
Coçando em minhas mãos
É assim que começa
A jornada
Que está há tempos
Caminhando
Do cérebro
Ao papel

Sílvio A.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Herz


Tão estranhas as coisas do coração. Não como qualquer outra coisa indecifrável, inexplicável e indefinível. As coisas do coração são muito mais estranhas do que as coisas estranhas normalmente são.
O coração tem maneiras próprias e misteriosas de trabalhar. É cheio de manias, o danado. O coração rejeita os conformistas em cima do muro; aceita apenas os intensos, que pulam, se jogam do lado mais escuro da circulação. O coração rejeita pessoas sensatas, aquelas que escolhem o ideal e não confiam em seus batimentos; aceita somente os loucos, que estão simplesmente disponíveis no pior momento imaginável.
O coração rejeita os planos e as certezas, isso é coisa pro chato do cérebro que acha que um mais um é dois. O coração sabe que as coisas não são bem por aí. O coração rejeita o acaso sem vontade, isso é coisa pro inconseqüente do corpo que acha que tudo é festa. O coração sabe que o mais importante não é o ritmo acelerado, mas a disritmia.
O coração venera o elogio ocasional desarticulado, saído das bocas bêbadas dos verdadeiramente apaixonados. O coração se emociona com o tempo gasto em decifrações e ponderações para alimentar a bomba singular do começo, recomeço ou fim. O coração acende-se com os pequenos sinais, as minúsculas palavras que inconscientes sustentam o grito na ponta da língua e o pulo na ponta dos pés.
O coração, coitado, sofre mais que o cérebro e se diverte menos do que o corpo. Mas ele tem uma energia vinda das explosões coloridas dos sentimentos profundos que cérebro nenhum entende e corpo nenhum suporta. Poderosíssimo, ele enche as idéias de propósito e os olhares de brilho.
Tão lindas as coisas do coração. Não como qualquer outra coisa indecifrável, inexplicável e indefinível. As coisas do coração são muito mais lindas do que as coisas lindas normalmente são.

terça-feira, 27 de julho de 2010

C'est la vie


Todos dizem que gostariam que as coisas na vida fossem fáceis como nos filmes. Eu costumava pensar isso também. Não me lembro agora qual filme estava assistindo quando mudei de idéia, mas a questão é que eu mudei. Percebi que as coisas nos filmes não são fáceis. Não mesmo.
Você acha fácil perceber que sua melhor amiga é o amor da sua vida na semana que ela vai casar com um duque escocês na Escócia? Ou fazer uma desconhecida que quer que você dê o fora nela em 10 dias, amar você?  Ou fazer uma mulher que tem perda de memória recente se apaixonar perdidamente por você todos os dias, pro resto da sua vida? Ou querer casar com um cara que foi jurado de morte por todo o nordeste? Ou ser louca pelo homem mais cafajeste do mundo, que ganha para desmoralizar as mulheres na TV? Ou ter um romance com uma agente americana que é casada com um nazista?
A vida dos filmes é complicada demais. Tanto quanto a vida real. Só achamos que é fácil porque as histórias acabam em duas horas. Nos próprios filmes elas duram mais, no mínimo dez dias.
O problema é que todo mundo acha que tudo dá certo demais. Em parte é verdade, os casais de todos os filmes que eu citei terminam felizes para sempre. Assim parece que é simples encontrar o amor. Mas cada pessoa desses filmes já errou feio. Traiu, foi traído, chorou, brigou e ninguém apareceu com flores e um lindo pedido de desculpas. Deu errado tantas vezes quanto nas nossas vidas, ou mais. A Julia Roberts terminou sozinha, a Cameron Diaz jurou que nunca mais iria amar de novo e a Sandra Bullock comeu brigadeiro na panela num sábado à noite.
O filme simplesmente focou no momento glamour da vida dos personagens. Se não seria muito igual à vida, não traria ilusões ou esperanças. E cá entre nós, quem assistiria a um filme horrível desses?
O que eu quero dizer é que a vida é muito mais linda que os filmes porque tem erros, tem acertos, burradas e as tais esperanças. E o momento Hollywood de cada um de nós chega um dia.
Nesse dia, depois de brigar com alguém, veremos um slide show com fotos e vídeos de como éramos felizes com esse alguém e quando a música acabar ele estará na sua porta com flores, chocolate, filme, moto, guitarra ou algo assim. E aquele friozinho na barriga, o pulo e a parada do coração, o esquecer de respirar, os fogos de artifício serão muito mais altos e gostosos do que os que sentimos no filme preferido. Porque é vida real.
E então poderemos finalmente ficar com o mocinho ou fugir com o vilão e vivermos felizes para sempre at
é os créditos acabarem.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Um puta dia internacional do rock!



Se eu soubesse tocar guitarra teria passado esse dia tocando. Se eu soubesse cantar teria passado esse dia cantando. Mas não sei, infelizmente, nem cantar nem tocar guitarra. Então como homenagear minha coisa mais preferida no mundo no seu dia internacional?
Fazendo o que eu sei fazer, oras. Escrever e ouvir. Ouvir é fácil, mágico e inevitável. Só que eu não sei o que escrever do rock. Mesmo. É impossível explicá-lo com palavras, riffs seriam mais completos. É tão difícil quanto explicar o sentimento. É como se as baquetas ditassem as batidas do coração e os toques graves do baixo comandassem as vibrações da mente. É como se os acordes e os gritos fossem inerentes à alma e essenciais para a sobrevivência. E digo mais, eles ditam e comandam. E são tão essenciais quanto inerentes.
Rock é pura e simplesmente rock. Pode ser punk, glam, progressivo, classic, de garagem, metal. Rock é rock. Rock é música, é arte. Rock é vida. Até o fim, baby. Até a porra do fim.

ps.: postei atrasado porque estava ocupada com sexo, drogas e... oops, tava ocupada com o Rock’n Roll. ;p

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Certinho sem causa


Tô com saudades de você. Eu sei que é besteira. Você está bem do meu lado, te vejo todos os dias. Ganho beijos e contratos. Ganho presentes e promessas. Não consigo reclamar de ter um anjo cuidando de mim. Não me permito olhar nos seus olhos e pedir para voltar atrás quando eu sei que só está aqui por mim. O problema é que eu não agüento mais fingir.
Não posso mais sorrir na sua cara se acho um saco esse seu novo eu. Eu nunca te pedi pra mudar por mim e sabe por quê? Porque eu me apaixonei por você daquele jeito. Insensível, besta, engraçado e irônico. Eu adoro seu humor negro e toda vez que eu penso numa maldade olho pra ver se você teve a mesma sacada. Mas você só fica sério. Eu tenho certeza que queria fazer uma piadinha sarcástica. Dá vontade de te chacoalhar e te mandar ir beber com seus amigos antigos.
Aqueles sim eram amigos. Que me faziam morrer de raiva por te seqüestrarem no meio da noite pra fazer uma despedida de solteiro. Você não tinha que arranjar amigos novos só porque arranjou namorada. Agora você aprendeu a ser um namorado modelo que fica em casa enquanto eu saio com as minhas amigas e amigos. Que dá presente nos dia dos namorados. Ei, eu nunca te disse que é só um artifício da mídia mundial pra nos convencer de comprar coisas desnecessárias num mês que não tem feriado?
Que reação química maluca aconteceu na sua cabeça pra achar que eu quero um marido perfeito? Eu nem quero casar lembra? A gente tinha combinado viver a lá Jack Kerouack. Não é justo você sumir assim.
 Você se esqueceu de quem eu era e eu tô quase me esquecendo de você. Queria abrir uma porta pro passado. Ia me ver morrendo de vergonha de você cantando Beatles no meio da rua. Ia me ver morrendo de rir da jaqueta vermelha de couro horrível que você comprou e todo mundo achando que era por causa do Michael Jackson. Nosso ex-segredo de quatro paredes é que era James Dean. Ia ver quando tudo começou a mudar e ia parar o tempo bem lá.
Pra variar é tudo um sonho porque eu não posso voltar no tempo. Tudo vai continuar assim até eu fazer alguma coisa. Provavelmente metralhar seus amiguinhos Ken e as namoradas Barbies deles. Vou procurar saber como Aldous Huxley resolveu o probleminha dele com robôs.
Bem no fundo você não mudou. Você riu por dentro quando eu tropecei ontem. Queria beber a tequila em vez da vodka na festa passada. Quis morrer quando tocou Love Hits. E queria comprar uma planta carnívora pra mim no dia dos namorados. Eu sei que sim. A campainha tá tocando. Tomara que seja você com uma moto e um cigarro na mão me roubando pra ver estrelinhas no planetário.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Flor da Pele

"Ando tão à flor da pele
Qualquer beijo de novela
Me faz chorar
Ando tão à flor da pele
Que teu olhar "flor na janela"
Me faz morrer
Ando tão à flor da pele
Meu desejo se confunde
Com a vontade de não ser
(...)
Às vezes me preservo
Noutras, suicido!"

Zeca Baleiro

quarta-feira, 17 de março de 2010

Amor Inventado


A blusa era transparente, o olhar incandescente. É tudo que me lembro do antes. Quando parei para pensar, se parei pra pensar, já tinha me despido e te despido completamente. De toda roupa, olhares e risos. Todo desfile de terceiras intenções. Ali, naquele momento, a alma pedia um pouco mais de corpo. Ou vice-e-versa. A vida é tão rara.

E assim, entre beijos e arranhões, carinhos e mordidas, você me possuiu. Então, o tempo passou. Passou e parou. Não quero medir a altura do tombo porque vou despencar. E não pensaria de novo, uma segunda vez, ou terceira. Cairia quantas vezes fosse preciso pra te alcançar. Tua língua em meu mamilo, água e sal. Como é que a alma entra nessa historia? Afinal, o amor é tão carnal.

Mas, quem disse que é amor? Quem estipulou essa busca desvairada por ele? Quem o obrigou a nos acompanhar? Não quero nem saber. Só quero estar em você. Quero loucamente agora. Quero, daqui a meia hora, nem me lembrar de nós.

Meu coração tão vagabundo não bate bem. A disritmia é constante e irregular. Bateu mais forte quando ouviu tua voz, sentiu teus lábios em cada ínfima parte do corpo que já pertenceu a ele. E não mais cessou em disparar.

Não creio em santos e poetas. Creio no aqui e no agora.Nesse instante, pra rir tenho todos os motivos. E a loucura finge que isso tudo é normal. Contudo deveria ser. Se a felicidade, seja como for, não é normal, o que será? Será que temos esse tempo a perder? No fundo eu não ligo. Perguntei tanto e ninguém nunca respondeu. Logo, ligo pro aqui e pro agora. Você dentro de mim, com suas frases feitas, suas noites perfeitas. Porque é sempre só você que me entende do inicio ao fim. E se eu sou tantas, como pode você ser só um?

Viciei em querer. Em te querer, querer viver, amar, ter, ser. Seja a cura pro meu vicio. Vem comigo pra Babylon. É só o vento lá fora.


(bibliografia: musicas de Renato Russo, Zeca Baleiro, Lenine, e Cazuza)

quarta-feira, 10 de março de 2010






"Quem me dera
Ao menos uma vez
Explicar o que ninguém
Consegue entender
Que o que aconteceu
Ainda está por vir
E o futuro não é mais
Como era antigamente.

Quem me dera
Ao menos uma vez
Provar que quem tem mais
Do que precisa ter
Quase sempre se convence
Que não tem o bastante
Fala demais
Por não ter nada a dizer.

Quem me dera
Ao menos uma vez
Que o mais simples fosse visto
Como o mais importante
Mas nos deram espelhos
E vimos um mundo doente.

Quem me dera
Ao menos uma vez
Entender como um só Deus
Ao mesmo tempo é três
Esse mesmo Deus
Foi morto por vocês
Sua maldade, então
Deixaram Deus tão triste.

Eu quis o perigo
E até sangrei sozinho
Entenda!
Assim pude trazer
Você de volta pra mim
Quando descobri
Que é sempre só você
Que me entende
Do iní­cio ao fim.

E é só você que tem
A cura do meu vício
De insistir nessa saudade
Que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.

Quem me dera
Ao menos uma vez
Acreditar por um instante
Em tudo que existe
E acreditar
Que o mundo é perfeito
Que todas as pessoas
São felizes..."

Trecho de Índios - Legião Urbana

quinta-feira, 4 de março de 2010

A culpa é de alguém


“Escute aqui! Vou te dar algumas informações sobre Deus. Deus gosta de observar. Ele é um gozador. Pense! Ele dá instintos ao homem. Ele lhe dá esse extraordinário dom, e o que faz depois? Eu juro, para a própria diversão, para a própria comédia cósmica particular, ele cria regras contrárias. É a maior piada de todas: Olhe, mas não toque. Toque, mas não prove. Prove, mas não engula. E, enquanto você pula de um pé para outro, o que ele faz? Ele fica se mijando de tanto rir! Ele é um sacana! Ele é um sádico! Ele é um patrão ausente! Adorar isso? Nunca!”      
O Advogado do Diabo




Realmente né? Incrivelmente contraditório. Será que a mesma criatura que nos deu essa característica linda, o instinto, o desejo, criou restrições aos próprios presentes? Eu não acho provável. Tudo no universo funciona tão cronometricamente bem, que é difícil acreditar que o Criador tenha cometido tamanha gafe.
E não cometeu. Nós criamos as regras. Não nós, eu e você. Eu nunca faria isso. Mas sim algum Estado, em alguma época da história, querendo controlar uma população esperta, livre e crítica, catalogando o que é certo e o que é errado que disse: Olha, a segunda pessoa a habitar este vasto planeta comeu uma maçã e vocês vão arcar com esse pecado pelo resto da eternidade. Maçã? Pecado? Sério? Aí as pessoas pararam de questionar e pensar, apenas seguiram, porque é sempre o caminho mais fácil.
E cá estamos nós, eu e você, pagando pela fome de uma mulher que falava uga-uga com uma cobra e tinha como companhia só um filho da puta que nem serviu para avisar que cobras são pecadoras e maçãs venenosas.

Warning:

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O quinto cavaleiro


Ah, essa nostalgia de morte da vida, que mostra que não era vida aquela vivida. Vida latente, de protozoário infausto, que não tem escolha se não esperar pelo ambiente propício. Longas e turvas horas de expectativas. E qual será o caminho adequado? E o destino proveitoso?
Será o apontado por Deus? Qual deles? Será o indicado pela prole, companheiros, estranhos? Todos eles? Será o demonstrado pelo poeta, filósofo, sábio? Só ele?
Ou será o meu? Não. Se fosse o meu seria nosso, e se pertencesse a mim, não seria justo, seria? Não. Se fosse minha não seria existir, seria viver. Se fosse minha não seria latente, ausente, comovente. Se fosse minha seria livre arbítrio, crepúsculo, orvalho. Se fosse minha não mandaria embora.
Talvez fosse, como de fato foi. Lentamente cavalgando, com a chegada tão urgente, porque era saída. Apareceu porque era o fim, começou na derradeira estrela, na noite extrema. Se fosse minha, essa infinda ingrata vida, não viria a mim no final; estaria em mim desde o principio.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Antes de mais nada


Ah, pra que isso tudo? Que necessidade tem esse cheiro, essa blusa, esse papo? Pra que o exagero? Nem sou tão exigente. Essa camisa meio aberta tem que ser pra eu terminar de rasgar né? E o perfume é pra eu te encher de suor. Aposto que a conversa é só pra eu te calar a boca. Porque pra melhorar tudo isso, só estragando mesmo.
Pois bem, vou acabar com você por ter acabado assim comigo. Isso eu sei fazer. Posso ter um fraco por adolescentes com caras de anjo, mas é com homens como você, com barba e mãos como as suas, que eu fico forte. Fico tão forte que te derrubo no chão, rasgo suas idéias e tudo mais ao alcance das minhas mãos, e dentes, e lábios e línguas. Viro mulher, mulher mesmo, pra fazer jus ao homem ao meu lado, ou em cima, ou embaixo, ou do jeito que a gente quiser. Digo sim, aceito me casar com você, fugir para qualquer lugar. Da cama para Roma, das escadas para a Nova Zelândia, do balcão para Babilônia, do chão para o Triangulo das Bermudas. Daqui para o céu, em poucos segundos e muitas horas, ah sim. Ainda tem essa sua voz que me acorda. E que voz.
- E ai, foi bom pra você? – rimos e respondo:
- Claro, gostei muito do jantar e principalmente te conhecer. – sorrio enquanto você estaciona na porta do meu prédio.
-Eu também adorei te conhecer. Espero que possamos repetir isso em breve. – você diz sorrindo. Depois de me encarar por eternos dois segundos, desce do carro, abre a minha porta e me acompanha até a entrada.
- Foi um prazer. – você diz com um meio sorriso, e nossa, tinha esquecido do seu olhar.
-Satisfação, - corrijo – prazer ainda vai ser.
Lá vamos nós de novo.
E embora sem a prosa não contaria a poesia, o meu desejo sempre é retomar os versos, rimas e sua estrofação perfeita.