sábado, 9 de abril de 2011

Querido,

Eu sinto muito. Sinto muito por destruir esse sentimento tão lindo e nobre que você tem. Sei bem que está certo, não tenho coração. O pequeno, frágil pedaço que me restou usei para esmagar o seu. Não friamente, receio informar. Embora afirme que meu petit é feito de gelo, ele na verdade vive em chamas. Apenas não havia se aquecido diante da intensidade de sua demonstração. Foi questão de determinismo, por mais que tentasse sentir essa felicidade, e infelizmente tentei, nasci com medo de eventos muito dramáticos. Escondo-me em uma caverna escura para fugir do fervor do sol. Meus passos são de formiga, gosto de me acostumar e apreciar cada nova paisagem. E esse também é um problema congênito, novas paisagens. Aprendi, desde cedo, a detestar rotinas e enjoar até dos meus próprios gostos. Assim, sem direito algum, desfiz sua rotina e exigi, em silencio, mudanças diferentes a cada ano. Não se é possível, entretanto, modificar toda uma tradição, a essência de uma paixão. 
Mas minhas desculpas são inúteis diante do mal que causei. Alguém, um dia, destruiu minha sensibilidade e arruinou meu equilíbrio, minha estabilidade. Eu fui essa pessoa para você. Vocês. O Natal nunca foi do meu gosto: sempre vermelho, chaminés, presentes e renas. Deveria ter me mantido distante. Desculpe por invadir esse mundo sendo tão alheia a ele a ponto de anulá-lo repetidamente. Estava apenas procurando a minha própria solidão, que, afinal, não é tão solitária assim. Não mereço tantos perdões, nem ao menos um, e principalmente não o seu. E mesmo assim, antes de pedí-lo, já o tinha. Você é realmente especial, vai encontrar o que precisa sem procurar muito além do pinheiro do seu jardim. Pendurará meias na lareira, mandará cartas felizes e distribuirá os melhores presentes, sem se lembrar da minha existência esverdeada manchando seu calendário. Estarei por aqui, em meu mundo estranho, onde todo Natal é Halloween. 

- Sally Grinch