quinta-feira, 17 de maio de 2012

Supernova




O céu estava muito escuro, mas ainda podia ver um tom de azul que não queria se deixar levar. Quase que propositadamente dividido, um lado estava todo salpicado de estrelas como nunca se vê nas grandes cidades. O outro lado tinha nuvens imponentes, que davam um destaque escultural para a lua crescente acima delas. Lágrimas encheram meus olhos e meu pescoço não queria descansar.
Não era a primeira vez que via a noite. Inclusive, nem me lembro da primeira, mas de todas as vezes que me apaixonei por ela. O céu escuro, as estrelas e a lua realizam sobre mim um encanto raro, delicioso. E apesar desse deslumbramento constante não subestimo a rotina. Toda vez que olho o céu a noite me apaixono de novo. Mas aquele dia foi diferente.
Foi diferente porque era a primeira vez que a noite me via. Eu andava pelo quintal para buscar alguma coisa no carro, já de pijama e olhei para cima cumprimentando o objeto da minha paixão platônica. De repente não era mais platônica. A noite me olhava. E olhava linda, intocável, eterna. Como se não bastasse, me mandou um presente. Para dizer que aquela noite, aquele céu, a lua, as nuvens e as estrelas pertenciam a mim, naquele momento e para sempre, se assim eu desejasse.
Enquanto eu virava os olhos, sem saber para onde fitar, tentando gravar cada pedacinho daquela noite, uma estrela caiu. Uma estrela cadente cruzou os céus e meus olhos, para sussurrar em meu ouvido que a noite que memorizava era minha. Essa estrela caiu para mim há anos e só naquela noite eu vi sua luz.
A estrela é tão minha que pode ter caído nos anos quarenta, quando nasceu minha alma povoada com a imponência das nuvens. A estrela é tão minha que pode ter surgido na Roma Antiga, onde nasceu meu coração eternizado com o tom de azul da noite. A estrela é tão minha que vai morrer criando um buraco negro, para onde espero ir com minha alma e meu coração, minha noite e minha lua. A estrela é tão minha que fiz a noite pertencer a mim e eu pertencer à noite para sempre, porque assim desejei.