domingo, 10 de outubro de 2010

Seguindo o Sol


Queria os olhos da minha mãe. Quando eu era pequena, costumava dizer que pareciam girassóis em campos verdes de grama começando a secar. Os meus preferidos. Herdei os olhos do meu pai, puxadinhos, pequenos e castanhos. Da minha mãe herdei outras coisas.
Minha mãe é muito paciente. Paciente e calma com as coisas e com as pessoas, principalmente. O que é raro. Herdei isso dela.
Herdei também o gosto pela arte. Ela desenha, pinta, cria e escreve muito bem. E nossas habilidades maiores são complementares. O que ela consegue criar numa cabaça talvez só eu consiga pôr em palavras.
Poderia escrever um livro sobre essas coisinhas que temos em comum. Porém existe algo que aprendi com ela que acho que é maior do que todo o resto junto. Algo que foi inconsciente, tanto da parte dela ( o que não tira seu mérito, já que ratificou com exemplo), tanto por minha parte, que acabo de perceber.
Minha mãe é de Belo Horizonte e veio para Goiânia quando se casou com meu pai, com 19 anos. Transferiu sua faculdade de Odontologia de Diamantina para Anápolis e estudava durante os meus 3, 4 anos. Crianças são muito sinceras e eu, sendo cuidada por meu pai enquanto minha mãe estudava, passei a chorar por ele à noite. Vi Tigres com filhotes e disse que era o pai, porque a mãe estava trabalhando; por isso também a menininha de Chiquititas chorava. Disse isso para minha mãe, e cheguei até a perguntar onde ela morava.
A lição é que muitas vezes na vida eu terei o poder de machucar as pessoas com a verdade, mas isso não me dá o direito de fazê-lo. Claro que com 4 anos eu não tinha noção que minha mãe fazia tudo por mim e eu a fazia chorar a noite toda. A questão é que isso ficou guardado em algum cantinho dentro de mim. Isso se tornou a minha essência em mais do que a conclusão óbvia. A lição me ensinou gentileza, humildade, boas maneiras, respeito e perdão; a admirar sinceridade e saber usá-la assim como as palavras.
Se sou quem sou hoje, essa alma colorida e humanista até as entranhas, eu devo a ela. Por ter sido essa mãe maravilhosa que um dia quero ser pros meus filhos. Por ter me deixado fora das rodinhas adolescentes que reclamavam das mães. Eles não vêem que as mães só querem seu bem, mas o olhar da minha nunca me permitiu achar o contrário. E posso jurar que quando olho no espelho, bem de perto, meus olhos são campos de girassóis só um pouquinho mais secos que os dela.

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