sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O quinto cavaleiro


Ah, essa nostalgia de morte da vida, que mostra que não era vida aquela vivida. Vida latente, de protozoário infausto, que não tem escolha se não esperar pelo ambiente propício. Longas e turvas horas de expectativas. E qual será o caminho adequado? E o destino proveitoso?
Será o apontado por Deus? Qual deles? Será o indicado pela prole, companheiros, estranhos? Todos eles? Será o demonstrado pelo poeta, filósofo, sábio? Só ele?
Ou será o meu? Não. Se fosse o meu seria nosso, e se pertencesse a mim, não seria justo, seria? Não. Se fosse minha não seria existir, seria viver. Se fosse minha não seria latente, ausente, comovente. Se fosse minha seria livre arbítrio, crepúsculo, orvalho. Se fosse minha não mandaria embora.
Talvez fosse, como de fato foi. Lentamente cavalgando, com a chegada tão urgente, porque era saída. Apareceu porque era o fim, começou na derradeira estrela, na noite extrema. Se fosse minha, essa infinda ingrata vida, não viria a mim no final; estaria em mim desde o principio.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Antes de mais nada


Ah, pra que isso tudo? Que necessidade tem esse cheiro, essa blusa, esse papo? Pra que o exagero? Nem sou tão exigente. Essa camisa meio aberta tem que ser pra eu terminar de rasgar né? E o perfume é pra eu te encher de suor. Aposto que a conversa é só pra eu te calar a boca. Porque pra melhorar tudo isso, só estragando mesmo.
Pois bem, vou acabar com você por ter acabado assim comigo. Isso eu sei fazer. Posso ter um fraco por adolescentes com caras de anjo, mas é com homens como você, com barba e mãos como as suas, que eu fico forte. Fico tão forte que te derrubo no chão, rasgo suas idéias e tudo mais ao alcance das minhas mãos, e dentes, e lábios e línguas. Viro mulher, mulher mesmo, pra fazer jus ao homem ao meu lado, ou em cima, ou embaixo, ou do jeito que a gente quiser. Digo sim, aceito me casar com você, fugir para qualquer lugar. Da cama para Roma, das escadas para a Nova Zelândia, do balcão para Babilônia, do chão para o Triangulo das Bermudas. Daqui para o céu, em poucos segundos e muitas horas, ah sim. Ainda tem essa sua voz que me acorda. E que voz.
- E ai, foi bom pra você? – rimos e respondo:
- Claro, gostei muito do jantar e principalmente te conhecer. – sorrio enquanto você estaciona na porta do meu prédio.
-Eu também adorei te conhecer. Espero que possamos repetir isso em breve. – você diz sorrindo. Depois de me encarar por eternos dois segundos, desce do carro, abre a minha porta e me acompanha até a entrada.
- Foi um prazer. – você diz com um meio sorriso, e nossa, tinha esquecido do seu olhar.
-Satisfação, - corrijo – prazer ainda vai ser.
Lá vamos nós de novo.
E embora sem a prosa não contaria a poesia, o meu desejo sempre é retomar os versos, rimas e sua estrofação perfeita.

Princípio fundamental da vida


Nada se cria tudo se transforma. Minha teoria é de que isso acontece, também e principalmente, com o amor.
Primeiro que o amor não nasce do nada. Você lá, ouvindo Beatles e plim: amor. Não, o amor é um produto. Pode vir da amizade, do ódio, simpatia, atração, paixão, admiração, desprezo. Enfim, ele pode nascer de qualquer coisa, mas nunca do nada. Um beijo no escuro, uma nota musical, um grito de prazer, um sorriso sincero, um olhar sobre o jornal no café, um tapa que não deveria ter doído. Tudo no universo foi feito para gerar o amor. Talvez por isso ele não simplesmente acabe. Você lá, ouvindo Sex Pistols e puf: cadê o amor que eu deixei aqui?
O amor se transforma. Pode se transformar em tudo que o gerou. O amor vira amizade, raiva, ressentimento, indiferença, carinho, preocupação, lembrança, saudade. O amor sofre mutação, poliploidia e crossing-over, mas não morre. O amor se reapresenta em forma de uma briga silenciosa, um soco que deveria ter doído, muitas noites mal dormidas, incontáveis lagrimas ao sol, um riso melancólico, um abraço de despedida, meios sorrisos amarelos e seguidos apertos de mão. Praticamente tudo no universo existe por causa do amor.
O amor pode passar por varias metamorfoses, mas sempre vai estar ali, a espreita, como um gene pronto para se manifestar em qualquer lugar, qualquer momento, por qualquer motivo, em todas as pessoas, por qualquer outra. Um gene recessivo que domina todos os caracteres.