quinta-feira, 9 de setembro de 2010

eu te amo tanto, tanto.




Estou de novo viajando pra ver alguém que amo deitado, gelado, coberto de flores mortas. Eu não sei explicar a dor ou quaisquer sentimentos que a acompanhem. É estranho ainda quando penso que chegarei a BH e não vou vê-lo no portão de embarque esperando para nos abraçar, pegar as malas e ir mancando até o carro.
O avião agora balança com os soluços da minha mãe, que perdeu o pai. E com os abraços de consolo do meu pai que acaba de perder seu outro pai e melhor amigo, apenas 8 meses depois de perder o primeiro.
Nunca torci tanto para o avião não pousar. O meu lugar preferido em todo mundo exibe suas luzes pela janela e eu quero que o avião permaneça no ar até que o nosso chão volte. Isso não pode estar acontecendo.
68 anos. Uma mãe, uma esposa, quatro filhas, um filho, cinco irmãs, cinco irmãos, dois netos, quatro netas, três genros, uma nora, tantos tios, compadre, comadres e sobrinhos, incontáveis amigos e amigas. Uma vida inteira pela frente. Caixa fechada de sapato, meias novas, um lago mal acabado, e inúmeros planos não iniciados. Uma vida inteira para trás. Orgulhos de seus filhos, netos e genros (que eram também filhos), de sua esposa. Pescarias, viagens, cavalgadas, cachaças e filmes. No fim, o encontro de tudo numa sala grande, pequena demais para a família e os gritos desesperados. Era apertado e não coube todo mundo. Assim como não coube tanto amor. John Lennon disse que no final o amor que você dá é igual ao amor que você recebe. Acho que foi por isso que ele se foi. Mesmo amando tanto, tanto quanto ele amou, se ficasse mais um pouquinho só, ele não conseguiria corresponder o amor que causava nas pessoas.
As saudades doem demais em mim. É como um buraco imenso no peito que parece que nada vai preencher. Mas eu vou tentar encher de lembranças e histórias. Vou colocar a imagem dele acordando os netos com uma bacia de batata ruffles do vovô Jordano na sala e quatro copos de coca. Vou guardar minha herança, um caderno com os 572 filmes que ele assistiu em três anos de juventude e a carteirinha de torcedor inabalável do Galo com a camisa do time. Vou lembrar da imagem dele sentado no sofá do Canta Galo, cortando uma laranja e rindo da Espanha ser campeã do mundo. Vou gravar a sua voz me contando repetidas histórias de como machucou a perna no arame farpado, e o que aconteceu que deu bicho no gesso quando quebrou a mesma perna, e você, vô, cantando Menino da Porteira pra mim. Não sei se você não sabia a música inteira ou se eu nunca ficava acordada até o fim, mas por algum motivo eu demorei a descobrir que o menino morria no final. Mas ele morre. E você morreu.
Agora eu não sei como a gente vai conseguir viver sem você. Desconfio que aquele coração gigante seu não parou de bater simplesmente. Tenho certeza que todo amor lá de dentro vai se espalhar por todos que sentem a sua falta e isso vai nos dar força pra não deixar seu coração parar de bater. Nunca.

2 comentários:

  1. LINDO LU!!!!...AGORA E SÓ LEMBRAR DAS COISAS BOAS GUARDADAS NA MENTE E NO NOSSO CORAÇÃO BJUS QUERIDA...

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  2. peeeeeeeeeeeeeeeeeeeerfeito, me fez chorar!

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