domingo, 10 de janeiro de 2010

Acabou


Acabou. Não tem volta. Ponto final. Portas fechadas. The end. Fim. Ou qualquer outra variação. É tudo que eu precisaria ouvir pra continuar com a minha vida, virar a página. Não insistiria em algo que não existe mais. Desapego-me muito fácil de qualquer situação parecida. Só que às vezes as coisas não são assim tão definidas. Você pode achar que é um ponto, continuar seu texto, e só depois descobrir que na verdade era um ponto vírgula, ou dois pontos, ou reticências. Misturando a complicada gramática com um pouco de biologia cheguei à conclusão que essa morfologia poliformista dos pseudo-finais só atrapalha nossa vida.
Sendo compreensiva acima da média eu entendo a dificuldade das pessoas de colocarem um fim definitivo em qualquer coisa. É o medo da mudança, medo de se arrepender depois. E assim acabam adiando um fim. Mesmo que prolongando a esperança de um final feliz não signifique o sucesso. Mas é que algumas exceções ao persistirem em alguma situação estagnada, conseguiram sucesso e se passam por regras. Fazem-nos acreditar que “quem acredita sempre alcança”. Nunca nos prepararam para o fracasso. Pior: nunca nos prepararam para desistir.
Eu sou uma daquelas que dizem: Desistir? Nunca. Pobre de mim. Uma das maiores virtudes de um ser humano é saber desistir. Ter a coragem de abandonar o duvidoso pelo nada. Começar tudo de novo. São poucas as pessoas que conseguem pôr um ponto final. Não confunda com saber virar a página. Não, isso é muito fácil quando alguém coloca um ponto final por você. Difícil é desistir do seu mais profundo desejo. Pôr um ponto final no que você queria que continuasse até o fim do livro. Desistir de algo que você tem a esperança de um dia te fazer feliz. Desistir de esperar pela felicidade, e até desistir de correr atrás dela. Eu não consigo desistir. Ou pôr um ponto final. Já coloquei reticências, exclamação, interrogação, vírgulas. Coloquei dois pontos. Foi minha última pontuação. Se o parágrafo não seguir um rumo agora vou ter que aprender a desistir. E eu vou conseguir. Nem que seja só pra me gabar disso depois. Nem que seja só pelo prazer de falar: eu mudei de ideia. Nem que seja só pra ficar triste e comer uma panela de brigadeiro. Nem que seja só pra dizer: desistam, como eu desisti. Nem que seja só pelo nosso bem. Nem que seja só pela pressa de acabar um texto. Que fique bem claro: esse texto acaba aqui.

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