sábado, 21 de maio de 2011

A Bela e o Fera






A Bela não era assim tão bela, mas algo naquela menina chamou sua atenção. Talvez seu sorriso despreocupado, sua atitude desajeitada  ou um brilho no olhar que ele ainda não havia enxergado nela. Mandou-lhe um recado que terminava com um displicente “amo você”. Bela franziu a testa e surpreendeu-se com a espontaneidade do sentimento. Até então apreciara os breves momentos de companhia do Fera , sem perceber nele nada além de uma simpatia natural das grandes criaturas. Deixou-o se aproximar aos poucos, trocaram inúmeras cartas enquanto a viagem do Fera impedia seus encontros. Após um longo tempo, ou assim pareceu à moça, o garoto venceu sua timidez e declarou-se apaixonado.
Os dois passaram semanas juntos, se divertindo, aprendendo a se comportar agora que eram dois. Especialmente sendo tão diferentes. Todos viam Bela como uma mulher inteligente, bonita, simpática e responsável. Todos viam Fera como um homem ignorante, feio, bruto e irresponsável. Diziam que eram nada parecidos, um homem como o Fera não merecia uma mulher como Bela. Ela escondia dele os rumores, ele escondia dela seus pensamentos.
Ela brigava com todos de fora, não era nada do que falavam e sim determinada, sabia o que queria e queria o Fera. Se apaixonou perdidamente. Por tudo que ele era com ela e os outros nem desconfiavam. Ela via nele um menino doce, carinhoso, inteligente, divertido e que merecia as melhores coisas do mundo só por ter um coração maior que tudo. Seu único problema era não enxergar nada disso. Em sua cabeça, era apenas o que os outros pensavam dele. Pura e simplesmente uma fera. Acreditava que atrapalhava Bela e começou a se convencer que poderia facilmente ser feliz sem ela. Uma fada astuta o ajudou a se convencer disso e disse a ele para se afastar da Bela. Assim o Fera fez, abandonou Bela aos poucos e passou a dedicar sua alma à fada sem coração.
Bela chorou por noites e noites pela morte de seu mais puro amor. Aprendeu todas as lições, teve raiva da fada, e mais algumas noites chorou pela ausência do Fera. Com o tempo, Bela se acalmou, aceitou tudo e perdoou os dois, afinal, a vida faz isso mesmo. É melhor sofrer do que nada sentir. Alguns anos depois foi convidada para o casamento da Fada e do Fera.
Quando lá chegou, viu o Fera ansiosamente esperando a Fada. O brilho de seu olhar mostrava uma devoção que só perdia para os olhos da Bela pousados no Fera. Não que ainda o amasse, porque, de fato, há muito alterou seu sentimento. No entanto, tinha para com ele uma gratidão, estranhamente cultivada, por ter a ajudado a se transformar na mulher que era agora e que, essa sim, amava ser. Sua admiração ultrapassava quaisquer barreira que a Fada havia posto entre eles. Para Bela, o Fera não era aquele que havia a feito sofrer, mas aquele que a incentivou a quebrar todos os muros de sua mente, aquele que estava ao seu lado no momento mais mágico de transformação de sua identidade.
Bela não conseguiu se aquietar a partir do momento que viu a Fada. Ela não tratava o Fera como ele merecia. Seus olhos brilhavam de gana, não amor. No momento em que o Fera entregou à Fada seu grande e puro coração ela fugiu e nunca mais apareceu, confirmando os piores temores de Bela.
O Fera ficou completamente arrasado e derrotado. Envenenado com a ideia que a Fada tinha dele, não conseguia mais lutar para se tornar tudo aquilo que Bela sabia que ele poderia ser. Por muito tempo o Fera não se aproximou de ninguém, consumido pela dor e a resignação. Bela, que não mais suportava saber seu sofrimento, procurou-o em todos os lugares de refugio do velho amigo. 
Quando o encontrou, quase não o reconheceu. Estava completamente diferente daquele homem por qual se apaixonou e parecia nem ligar. Bela ficou ao seu lado por dias e dias, ambos em silêncio, sabendo o que cada um queria dizer, mas nenhum se atrevendo a pronunciar. Até que Bela decidiu o que faria. Aquele homem nunca seria o mesmo se continuasse sem coração.
Bela arrancou um pedaço do seu coração e, com o mais puro desejo, entregou-o ao Fera. Inicialmente, ele tentou rejeitar, não teria o direito de estragar ainda mais a vida de Bela. Ela, porém, o convenceu a aceitar:
-         "Uma parte do meu coração sempre foi sua, só estou te devolvendo tudo que esqueceu quando foi embora. Agora use todo amor que resta dentro de você e torne-o seu. O meu está intacto, como sempre, não se preocupe."
E assim, a Bela se levantou e foi embora. O Fera, muito devagar, foi refazendo seu coração, reaprendendo a ser o homem que a mulher que salvou a sua vida sempre acreditou que ele fosse. Um nunca mais ouviu falar do outro. Suas histórias seguiram rumos contrários e não mais se encontraram. Mas o modo com que suas vidas se tocaram foi tão magico que nunca se apagou. Mesmo que seus nomes não passassem na mente um do outro, suas almas tinham pedaços inseparáveis. Ao final, afinal, a Bela tinha um tanto de fera e o Fera um tanto de belo.

5 comentários:

  1. Acho que uma certa Bela deveria entregar tmb seu coração a um certo Fera...

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  2. Acho que uma certa BeLLa tah pensando no Fera errado... kkkkkkkkkkk

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  3. your loss....
    e VC reclamando de texto longo?? uhum ...vc n le seu blog entao?

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  4. Eu, ler meu blog? Aquela latrina? Claro que não.

    Eu escrevo texto longo, sim. Pq eu sou tosco, feio e impopular. É minha marca registrada.

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